quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

O Egito


I
Toma o menino e sua mãe e foge.
Toma o menino e sua mãe agora.
Toma o menino e sua mãe. O Egito é longe.
Toma o menino e sua mãe. E não demora.

Toma o menino e sua mãe. Aqui não pode.
Toma o menino e sua mãe e vai embora.
Toma o menino e sua mãe antes que Herodes...
Toma o menino e sua mãe antes que a hora...

Toma o menino e sua mãe. Depressa.
Toma o menino e sua mãe. A hora é essa.
Toma o menino e sua mãe e vai.

Toma o menino e sua mãe. Confia.
Toma o menino e sua mãe e Deus vos guia.
Toma o menino e sua mãe, pai...

II
Levanta-te então. Não perde tempo.
A sombra se aproxima. E quer matar.
Não perde tempo. Levanta-te sem demora.
Nenhuma possibilidade de esperar.

Levanta-te, então. Toma o menino
E sua mãe. Esse é o teu dever.
E foge para o Egito. Deus ampara.
E a palavra de Deus é proteger.

Esquece o medo. Levanta-te depressa.
É o Cordeiro de Deus que assim começa.
São os pecados do mundo o combatendo.

Toma o menino e sua mãe. E Deus vos guia.
E Deus será vossa companhia
E estará sempre vos protegendo.

Toma o menino e sua mãe. E vai.
Assume ai o teu papel de pai.
Segue, diante de Deus crescendo.

III
Não tenhas medo, José,
Segue adiante,
A vontade de Deus te acompanha a todo instante...

Segue, Maria, pelo caminho,
Não tenhas medo,
A vontade de Deus te bem disse desde cedo...

Meu bom menino Jesus,
Não há perigo.
A vontade de Deus, Nosso Pai, está contigo...

Então caminha, José,
Longe dali para um lugar seguro.
A vontade de Deus te protege, feito um muro...

Confia e segue, Maria,
Não há motivo para medo ou susto.
A vontade de Deus te ampara a todo custo.

Jesus, menino,
Não vai te acontecer nada de ruim.
A vontade de Deus estará contigo até o fim.

E assim seguiram, Jesus, José e Maria,
Fazendo, uns aos outros, companhia,
Tendo a vontade de Deus por garantia...

IV
E tem inicio a longa caminhada
Da família ao mesmo tempo Sagrada e exilada
Rumo à terra estrangeira.
Maria, como se fosse culpada,
Jose, como se sua vida fosse errada,
E o menino Jesus
Porque não poderia ser de outra maneira...

V
E segue em fuga a Família Sagrada
Conforme o anjo, o sonho, a anunciação...
O recém nato e sua vida ameaçada,
O Egito, além do deserto, a proteção...

A roupa do corpo, quase mais nada,
O medo menor que a determinação   
Segue viagem a família, determinada,
O mapa do caminho? O coração...

A escuridão da noite escancarada,
O horizonte sem fim por longa estrada,
O tempo que parece em translação...

O frio escuro da noite gelada,
O dia quente da areia escaldada,
Segue a Sagrada Família, então...

VI
Teria procurado José, zeloso
Seguir viagem com outros viajantes
Que, em caravanas, junto, seguiam?

Teria partido em silencio, sigiloso,
Para não chamar atenção dos habitantes
Da pequenina Belém, de onde partiram?

Teria levado, José, roteiro, guia?
Teria levado moeda? Garantia?
Que coisa além da fé inabalável?

Levava o medo de perder Maria
E o filho, que essa viagem protegia?
O que levava José, pai incansável...

VII
A longa viagem
Solitária e inesperada...
Que estranha culpa?
Quem os perseguia?
Que fuga subitamente anunciada?
Que aventura,
Com que garantia?

Refugiados
Em triste caminhada...
Um anjo do senhor
Os acompanharia?
Seriam perseguidos?
Maltratados?
E quem no Egito os acolheria?

Caminhariam
Deserto adentro
Por vales que ninguém se atreveria...
Sem água seguiriam,
Sem alimento,
Sem pouso,
Sem descanso,
Sombra,
Guia...

Cansados,
Fugitivos,
Assustados,
José, o menino Jesus, sua mãe Maria,
De uma hora para outra extraditados,
Nada entretanto os tombava
Ou os destruía,
O medo não os acuava:
Eram uma família...

Fugidios, como réus,
Desalojados,
Distantes da sua pátria,
Sua alegria,
Empobrecidos,
Desabrigados,
Um vinculo incomum
Ali crescia:
Eram uma família...

Jose cansava
Mas não desistia,
O menino de colo chorava
Consolado por Maria
Que às vezes, triste, chorava,
Que, sempre forte, seguia...
Nenhum deserto
Por maior que fosse
Ainda que desejasse
Os destruiria:
Jose, Maria e o menino Jesus
Eram uma família...

E nessa longa viagem
Solitária,
Silenciosa
Como uma vigília,
Seguiram
Confiantes
E amparados...
Estavam juntos...
Eram uma família...

VIII
Chora o menino,
A mãe o toma,
O pai tenta ajudar
E cantarola...
Deserto ali, além,
Por todo lado...
Desconsolado,
O menino chora...

Naturalmente,
Bebes de colo
Choram por quase
Todas as razões...
Mas é deserto,
Venta em tudo entorno,
Seus pais tem muitas
Preocupações...

Acalma-se o menino
Quando mama,
Nada parece apoiá-lo
Em seu redor,
Ou quase nada:
Seus pais o guardam...
Não há no mundo
Amor nenhum maior...

Silencio agora,
O menino já não chora...
Deserto.
Fome.
Frio.
Solidão...
Silencio.
Agora o menino dorme...
E alguma paz para o coração...

Assim passaram-se
Dias, semanas,
Meses que pareciam
Ser sem fim...
Deserto.
Sono.
Cansaço.
Frio...
E a história da fuga
Se escrevendo assim...

IX

Segue a família através do deserto,
O grande Sinai parece não ter fim.
Imenso de vazio e nada a céu aberto
E tempestade de areia e vento ruim...

Segue a viagem e seu futuro incerto:
Belém, Sinai, Egito... Sempre assim...
É como um nunca chegar ainda que perto
E uma família pronta para o sim...

Imensos vales. Vastas planícies.
Salteadores estúpidos e infelizes,
A morte, o medo, o risco, a solidão...

E assim seguiram por alguns meses
Sob o amparo de Deus sempre que às vezes
O cansaço, a tristeza, a exaustão...

X
Quanto tempo passaram fugitivos
Nesse êxodo indicado pelo anjo?
Onde viveram? Por onde andaram?
Que lugares e gentes conheceram?

Que nomes aprenderam, exilados?
Que paisagens por esse tempo?
Que dificuldades e quantas enfrentaram?
Quantos sequer os compreenderam?

Que hábitos assumiram, despatriados?
Que coisas construíram e plantaram
Nessa jornada longe do lar?

Que angustias sem noticias da família?
Quantas saudades da Palestina?
Em quanto tempo o tempo de voltar?
















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